Distritos Industriais

Distritos Industriais

Já está distante o tempo em que as fábricas eram instaladas em bairros populosos das grandes cidades brasileiras, para aproveitarem a existência de mão de obra local, a disponibilidade de energia e de comunicações e a malha viária urbana necessária para escoar a produção e para a recepção de matéria prima. Esse modelo de localização deixou de ser praticado em quase todos os países com algum nível significativo de industrialização.

Dois foram os fatores principais que levaram a essa mudança: a conveniência de que as indústrias observassem regras mais exigentes de convivência com as normas ambientais modernas e a necessidade de que as fábricas alcançassem padrões mais elevados de produtividade e economia propiciados por uma localização mais adequada.

Mais do que nunca, essa tendência vem se materializando na implantação de distritos industriais situados em áreas periféricas, mas próximas de grandes rodovias, portos, aeroportos, troncos ou ramais ferroviários, muitas vezes transformados em centros de logística bem estruturados e capazes de abrigar cadeias produtivas interdependentes (conceito de cluster e de APL). A escolha adequada do local para a implantação de uma unidade industrial faz toda a diferença nos resultados finais de produtividade e eficiência, bem como na competitividade de cada fábrica no mercado globalizado.

O desenvolvimento econômico acelerado de muitos países resultou, principalmente, da agilidade na adoção do novo modelo de localização industrial, sendo que, em alguns casos, como o da China, a implantação de novos distritos foi feita a toque de caixa para aproveitamento das oportunidades econômicas, mesmo com um indesejável prejuízo na observância das conveniências ambientais. Não é o caso de muitos outros países desenvolvidos, onde os distritos industriais atenderam, simultaneamente, de um lado, as conveniências das indústrias que buscavam boa modulação, lotes infraestruturados e bem localizados e a possibilidade de integração com outras unidades complementares e, de outro lado, o arranjo ambiental mais racional, incluindo a criação de áreas de preservação, o compartilhamento de equipamentos mais eficientes de tratamento de efluentes e de recirculação ou reciclagem de resíduos, além da obtenção final de um ambiente de trabalho mais seguro e confortável.

Nesse particular, a situação nacional é bem mais precária. Os distritos industriais já implantados em nosso país são insuficientes (com muito pouca ou nenhuma disponibilidade para abrigar novas fábricas), muitas vezes improvisados ou mal concebidos (segundo padrões urbanísticos ultrapassados). Esse é um fator importante para explicar a baixa competitividade da indústria brasileira no exigente mercado globalizado. Nossos produtos perdem em qualidade e, principalmente, nos custos de produção, muitas vezes por conta de fábricas mal instaladas e pouco eficientes. E esse fator já está presente na nossa realidade, há muito tempo, embora as suas consequências adversas venham crescendo exponencialmente.

Segundo o Instituto Braudel de Economia Mundial, a economia brasileira vem tendo mau desempenho nos últimos 25 anos, com uma taxa de crescimento média de apenas 1,4% ao ano. Certamente, a falta de competitividade da indústria nacional é uma das principais causas desse fraco desempenho. Mas, quanto disso decorre diretamente da precariedade das instalações industriais e da falta de localização adequada para um modelo mais competitivo? E mais, como essa situação poderia ser rapidamente revertida?

Qualquer que seja a resposta à primeira indagação, o problema parece insolúvel diante da segunda dúvida. Não há como se reverter isso no curto prazo, sem que essa bandeira se transforme em uma prioridade governamental de forma a remover os empecilhos burocráticos. Atualmente, no Brasil, somente a etapa de obtenção de todas as licenças ambientais e de  aprovação dos projetos costuma demorar mais de cinco anos! Após a regularização do licenciamento e das aprovações de projetos, a construção propriamente dita do distrito industrial e de seus equipamentos raramente se conclui em menos de dois anos, conforme o seu porte e complexidade. Em resumo, a disponibilização de novos lotes infraestruturados para a instalação de unidades fabris mais eficientes costuma consumir mais de sete anos (fora o tempo de construção das fabricas em si). Com o agravante de que, essa situação acaba também por desestimular os empreendedores dedicados à viabilização e implantação de novos distritos industriais. O período de desempenho fraco da nossa economia, por esse lado, vai se prolongar por mais 25 anos? Vamos continuar perdendo empregos, impostos, rendas e desenvolvimento, também por essa razão? Não podemos. Precisamos virar este jogo e todos os outros semelhantes.

Engenheiro, Presidente da MRV Engenharia, Presidente do Conselho de Administração do Banco Intermedium, LOG CP, Urbamais Desenvolv. Urbano e Presidente da Abrainc.

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