Na terceira parte da entrevista sobre o setor aéreo com o comissário de voo Lucas Muniz, abordaremos a Tecnologia e a Infraestrutura no setor.
Lucas nos ajuda a identificar as falhas e também os pontos positivos em relação à tecnologia das aeronaves e da infraestrutura da aviação no Brasil.
BL – Estamos com atrasos em termos de tecnologia no cenário da aviação nacional?
A frota brasileira cresceu demais e as estruturas de solo e navegação não acompanharam. Em alguns aeroportos brasileiros basta um nevoeiro para ninguém mais pousar ou decolar, pois lá não há ILS II ou III (voos por instrumentos) que permitem pousos e decolagens mesmo sob condições adversas. Nos EUA, aviões pousam e decolam mesmo sob nevascas, mas claro, dentro de um limite de segurança. É como eu ouvi de um comandante certa vez: “É como andar com uma BMW em uma estrada de terra.”
BL – Há muito tempo não há um acidente aéreo no Brasil. Como está nossa malha aérea?
A malha aérea no Brasil vive constante crescimento. As companhias aéreas aumentam suas frotas e rotas. Há também um “boom” de cias aéreas internacionais iniciando operações regulares em nosso país. Vale lembrar que acidentes aéreos nunca são causados por um único item, mas sim pela soma de várias falhas (humana, mecânica, etc.).
BL – Existem pontos que você considera perigosos, que precisam urgentemente de investimentos em termos de tecnologia?
Sim, sem dúvidas! Conforme eu disse anteriormente, um acidente aéreo nunca é causado por um único fator. Sempre por dois ou mais (geralmente é por mais). A evolução tecnológica tem que seguir em paralelo com treinamentos preventivos e corretivos de tripulantes, manutenção de frotas, sistema de tráfego aéreo entre diversos outros. Um fator que considero como o mais importante é as empresas terem, em primeiro lugar, a segurança de seus voos e não o fluxo do seu caixa. Capitalismo selvagem na aviação pode gerar desastres angustiantes como, por exemplo, o voo 3054.
BL – O que você pensa da multa que a ANAC vai aplicar para as companhias aéreas que atrasarem voos durante a Copa?
As cias aéreas são o bode expiatório de nossos órgãos regulamentadores. Nossa aviação vive uma era regida por burocracias e falhas! É mais fácil empurrar o problema para as companhias aéreas, que por sua vez, repassam esses gastos para o bolso dos usuários do serviço aéreo.
BL – Podemos dizer que o Governo não é um parceiro das companhias aéreas?
Só quando é conveniente para ambos.
Na semana que vem, na última parte da entrevista com o comissário Lucas Muniz, o tema será a qualidade da aviação no Brasil e tentaremos traças um perfil do passageiro brasileiro.